Pesquisar este blog

terça-feira, 3 de maio de 2011

Arte na rua

arte publica, o poeta das ruas
almanaque arte
"... Com a mala a punho, a vida e a cuia
Vai a prantos o viajante
Tropeça em lágrimas, cai na tuia
Como notório errante

E com a poesia a mão
Para doar a qualquer ser
Arranca do peito a solidão
Enfeita com pétalas o bem querer..."
(Trecho do poema "Andarilho", de J. Cláudio)

Quem frequenta a noite uberlandense já deve ter cruzado com uma figura inusitada carregando uma maleta, trajando terno, gravata e saia. Esse é o poeta J. Cláudio e seu personagem atual: executivo de saia, inspirado no modernista Roberto Carvalho, que entrou contra o fluxo de uma procissão, em São Paulo, usando a peça.
J. Cláudio nasceu no agreste pernambucano, além de trovador é pai, militante político e ativista ambiental. Formou-se em Filosofia no Recife e chegou a Uberlândia há 13 anos. Apaixonado pela alma feminina, e com sede por levar questionamentos a seu público, é tido como polêmico por tentar quebrar paradigmas com suas criações. Hoje, aos 49 anos, possui seis livros publicados, escreveu alguns cordéis, gravou seus poemas em CD e escreveu peças para teatro.
O palco do poeta são as ruas, praças e bares da cidade, para os quais leva o personagem e faz sua performance poética. Recitando textos próprios e de escritores consagrados, como Cecília Meireles e Manuel Bandeira, o artista procura sempre despertar a atenção para a sociedade. "Quero que se questionem e discutam sobre a concepção de ser humano: por que o homem não pode usar saia? Quem concebeu que a saia é apenas para mulher? Muito pelo contrário, as mulheres é quem tomaram conta do vestuário masculino. Luís XXV, por exemplo, usava salto alto", explica.
Suas performances duram em média meia hora e por noite o artista chega a fazer entre seis e sete apresentações. Ele conta que sua intervenção é dividida em três momentos: a chegada, que por tratar-se de uma pessoa incomum já causa frisson; a apresentação em si, momento no qual informação e emoção são expostas para o público; e o reconhecimento de seu trabalho, quando ele passa o chapéu recolhendo dinheiro ou vende seu livro.
Apesar do artista de rua enfrentar um pouco mais de preconceito, em geral, é bem recebido nos locais por onde passa. "Ouço desde piadinhas, elogios e críticas, até cantadas descaradas". Ele fala que é possível viver de arte no Brasil, inclusive em Uberlândia. Sobrevivendo num país onde cultura é artigo de luxo, levar seu trabalho para as ruas é exercício diário de paciência e amor à arte. "Na cidade existe uma aglomeração cultural de pessoas de Estados e países diferentes que aqui vivem. Uberlândia vem conquistando sua maturidade cultural aos poucos", comenta o poeta.
Flávia Reis é jornalista.
foto marlúcio ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário